quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Poema

 


UMA PEQUENA ABERTURA

 

 
Um rio corre por todo o universo

E se despeja nas frestas.

Os muros que param o rio

São as pedras que ele cristalizou

E se separaram do rio.

Mas a água corre insistente

Querendo eternamente

Voltar ao coração das criaturas.

O rio é a Consciência

E onde quer que haja uma brecha

Uma pequena abertura,

Um desejo de Deus não disperso,

Ela quer nos preencher de Deus,

Água Viva deste grande universo.

 
 


 
 
 
MOCK/23/09/2016


sábado, 17 de setembro de 2016

Um gole de cada vez ou todo o rio


 

Embora todos estejamos mergulhados no caudaloso rio da vida, cada um de nós só consegue beber dela com seu próprio pote, gole a gole. Somos seres finitos fazendo parte do Infinito. Nosso pote são as limitações individuais: o corpo, as circunstâncias em que nascemos e vivemos, nosso modo de sentir, pensar e querer. Vislumbramos a Beleza infinita – na natureza, nos seres que amamos, nas nobres ideias e sentimentos, mas não podemos nos apropriar dela, a não ser daquele pedacinho que somos capazes de desfrutar e sentir. Amar alguém é sentir essa dor da impotência. A pessoa amada também é esse mundo à parte bebendo da vida por meio de seu próprio pote e não pode ser “engolida”. Viver é ter fome e sede insaciáveis e só conseguir preencher essa carência na medida em que nossos comandos mental, emocional e orgânico nos permitirem. E se já é bastante difícil a vida tendo nosso pote vazio, imagine se estiver repleto de sujeira ou coisas inúteis - um mental cheio de preconceitos e fanatismos; um emocional pesado de ressentimentos e medos; um corpo preguiçoso ou doente. Ficaremos com nossas chances de saciar nossa sede de vida ainda mais reduzidas.

Sentimos no dia a dia esse paradoxo como um espinho cravado na carne, que dói, mas também nos estimula: sentimos a Imensidão, mas somos formigas que não conseguem avançar além do jardim; queremos muito, mas nosso pote é pequeno. Como diziam quando éramos crianças, temos o olho maior que a barriga, desejamos aquilo que não conseguimos digerir.

Como nossa sede de vida é infinita, não nos resta outra tarefa senão procurar alargar cada vez mais nosso pote: ser capaz de pensar com mais clareza e compreender mais; ser capaz de cultivar o emocional para que produza sentimentos mais puros e criadores de vida; ser capaz de conhecer melhor o corpo e ter uma relação de amizade com nosso organismo. Todos esses aspectos do nosso mundo determinam a forma e a medida com que podemos beber do rio da vida, de forma a ficarmos satisfeitos. Mesmo assim, esbarramos num limite: é o nosso jeitão, ou nosso destino, que é a concretização desse jeitão.

Mas vale lembrar que no instante em que estivermos sentindo a dor dessa limitação do ego, estaremos observando de fora o pote com que bebemos nossa vida – seu formato, seus defeitos, suas medidas. E nesse momento podemos, não o encher mais do que nele cabe, mas beber uma água de mais qualidade, uma água que verdadeiramente sacia. Não adianta querermos mudar o pote com que a Vida nos brindou, que é nosso aqui e agora. Saciamos nossa sede de Vida verdadeira, apesar de nossas limitações, saindo fora do âmbito em que elas se manifestam, observando nossos centros mental, emocional e biofísico sem receio de ver e sem criticar também. Nesse estado meditativo compreendemos que só estamos separados uns dos outros na aparência, mas, de fato, somos o próprio rio.

 

 

 

  

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Falando de caridade

Falando de caridade em termos gastronômicos:

Não é porque uma pessoa não pode compartilhar o seu banquete por falta de dentes ou de boa digestão que você vai lhe negar a papinha que ela é capaz de comer.

Se não puder saciar seus desejos,  talvez possa mitigar sua fome.
Se não puder lhe dar nada,  sempre poderá lhe dar um sorriso.

Uma coisa que aprendi é que não precisamos julgar: esta pessoa merece ser ajudada? Isso não nos compete.
O que devo perguntar é: o que eu posso fazer por esta pessoa neste momento?
Às vezes esse fazer é invisível.  Pode ser um silêncio,  um não fazer nada que ajudará.  O que ela vai fazer com a doação que recebeu compete a ela. O que fazemos com o nosso coração,  se o mantemos aberto ou fechado ao sofrimento dos outros compete a nós.


sábado, 28 de maio de 2016

O Mental diz uma coisa, mas o Corpo quer outra

Não descanse quando o corpo tem vontade de descansar; não lhe dê ouvidos. Mas se o mental sabe que o corpo deve descansar, faça-o.
Para isso deve-se aprender a distinguir entre a linguagem do corpo e a do mental e ser honesto.

Gurdjieff
 

Se nosso corpo se move, nosso coração bate, nosso cérebro pensa e nossos sentimentos florescem é somente porque temos uma boa dose de energia para isso. Basta uma noite de sono mal dormida para constatar que não fomos recarregados o suficiente e nossa bateria vital está num nível baixo. Durante os exercícios de meditação, quando começamos a nos familiarizar um pouco mais com essas energias, elas assumem para nós a sua realidade inegável. De forma enigmática, misteriosa e profundamente generosa, são elas que põem em funcionamento nossos Centros Mental, Emocional, Motor e Fisiológico. De onde vêm essas energias?  Por que passamos a maior parte do tempo sem lhes dar atenção, qual um eletrodoméstico que foi ligado na tomada e tem obrigação de funcionar?
Cada um dos Centros possui um tipo de energia e uma função própria. Mas eles nem sempre estão em boa comunicação entre si. O mental diz uma coisa, mas o corpo quer outra. O mental quer algo que desconsidera totalmente as necessidades do corpo. Na alegoria da carruagem descrita pelo Sr. Gurdjieff, o mental, representado pelo cocheiro, deve dirigir a carruagem que representa o corpo. É ele, mental, que tem o mapa; ele que aprendeu o caminho, ele que idealmente segue as instruções do passageiro da carruagem, o Eu Real, e o conduz ao destino. Ao corpo cabe obedecer docilmente, cumprindo suas funções de veículo de transporte. Acontece que na maior parte das vezes o cocheiro-mental não está qualificado para dirigir-nos de maneira responsável; ou ele está distraído com a paisagem ou não se informou adequadamente e suas ordens, ou são inexistentes, ou são um desastre. Nessa circunstância, os cavalos andam por si mesmos, puxando o carro. Representam as emoções que nos movem com grande energia, para cá e para lá. Aonde o passageiro será conduzido dessa maneira?
A frase do Sr. Gurdjieff nos lembra que, se o corpo expressa seu desejo de descansar, ele não deveria ser ouvido, porque cabe-lhe obedecer. Supõe-se que o cocheiro-mental esteja ausente, isto é, que não estamos conscientes do que se passa com o corpo e este esteja abandonado aos seus próprios impulsos.  O cocheiro deve ser despertado! Ele deve saber para onde estamos indo, qual o estado do carro e dos cavalos, quais as condições da estrada, e, levando em conta tudo isso, decidir se o carro-corpo deve ou não descansar.  

 

MOCK/28/05/2016

 

 

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Apesar do Tempo





“Meditação Diária” 
“Ah, amanhã. Eu conheço bem esta doença. Eu sempre digo que o amanhã não existe. Somente o hoje. O que precisa ser feito, precisa ser feito hoje. No próximo dia será duas vezes mais difícil e no dia depois será quatro vezes mais difícil. Você só pode contar com hoje.” Gurdjieff





COMENTÁRIO

Quem não estiver familiarizado com os ensinamentos de Gurdjieff pode estranhar a lógica da citação. Só podemos contar com hoje? No entanto, se pudermos fazer hoje, amanhã será hoje, e depois de amanhã também; logo, sempre será possível. Mas é preciso  nos lembrarmos que Gurdjieff referia-se a um tipo muito determinado de “fazer”.

Ora, que é que, em suma, precisa ser feito? Só uma coisa: despertar! Se, por graça recebida de um Plano Superior, surgir em meu ser uma faísca de “consciência de si”, isso já é algo tão fantástico e improvável, pelo modo como vivemos, que constitui um verdadeiro milagre! No universo, as trevas são a lei da inércia; só a luz da consciência pode causar uma real mudança, um real fazer. Se eu mudar, deixando essa pequenina luz agir, por um átimo de segundo que seja, então tudo muda, o mundo inteiro muda.

Mas, se eu deixar esse instante passar; se não lhe der atenção, ou se estiver muito ocupada e disser: “amanhã tentarei recuperar isto”... então o instante seguinte e todos os demais, o amanhã e o depois de amanhã estarão sob a lei imutável da mecanicidade, segundo a qual tudo e todos nós estamos decaindo sempre, cada vez mais nos adensando no Raio de Criação, que vai da energia mais pura até a mais densa matéria, e nos afastando do Absoluto... Somente aquela faísca de consciência poderia deter isso e nos fazer despertar para nossa verdadeira natureza... E se naquele ontem, ela era simplesmente um milagre, agora então, soterrada sob o peso da mecanicidade acumulada, será impossível!

Daí as palavras do mestre, econômicas e cheias de significado: “Você só pode contar com hoje”. É ilusão pensarmos que podemos voltar no momento em que decidirmos, sacrificando o delicioso “nada” que nos mantém tão ocupados...! Não. A hora é agora.

 

Marcia K.
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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Uma Fábula da Criação

 (Esta é uma história puramente ficcional, que não tem intenção de veicular ensinamento, crença ou ideologia. Enjoy it!)
 


 





No início o Criador estava dormindo e todas as coisas repousavam no Nada. Seu semblante plácido mostrava um sono profundo e sem sonhos, enquanto Seu sangue latejava ritmicamente no corpo imóvel. Então, Ele abriu os olhos. No mesmo instante, Sua Mente Divina se lançou no vácuo na forma de poeira cósmica finíssima. Estava inaugurado o espaço-tempo, permeando cada porção do que se chamaria o Universo.
Os pensamentos do Criador voavam livremente, Suas lembranças brilhavam aqui e ali, em turbilhões de matéria. O corpo do Criador ainda jazia em repouso, enquanto Sua Consciência se espalhava e se cristalizava em um sem-número de formas. Deus imaginava, e criava e criava. Então, Ele sentiu fome. Um vazio corroeu Suas entranhas e Ele sentiu desejo de comer alguma coisa, porque, junto com a poeira cósmica, o desejo fora criado. E Deus sentiu desejo de Deus, pois Seu sexo também despertara.
Ora, quando o Criador começou a sentir desejos, a matéria enlouqueceu. Até então, lançada a esmo, ela flutuava tranquila, mas começou a sofrer um impulso generalizado de se aproximar e se aglutinar, obedecendo à necessidade imperiosa de alimentar-se e de fundir-se. Surgiu a força gravitacional e, sob o seu influxo, a poeira cósmica aglomerou-se e gerou os corpos.
De um momento para o outro, luzes se acenderam por todo o Universo como um pisca-pisca numa árvore de natal. Por toda parte nasciam as estrelas e as galáxias, os planetas e os satélites, e infinidades de seres celestes. O Universo, que surgira do Nada com os pensamentos do Criador, agora funcionava como um organismo vivo e irrequieto. Estrelas devoravam estrelas, galáxias devoravam galáxias e eram tragadas por buracos negros, planetas se fundiam e se desintegravam e assim incessantemente. A matéria criada não tinha apenas a Inteligência de Deus, agora era um organismo que possuía também a Sua inesgotável Vida.
O Criador assistia a todo esse espetáculo e não cessava de Se admirar das coisas lindas e boas que por Sua vontade haviam sido criadas. O desenrolar imprevisível daquele drama a que dera início havia feito surgir o Tempo. E o Criador acompanhava com grande interesse o desenrolar da existência de todos os seres.
Mas um dia, no meio do Tempo, o Criador vislumbrou em Si Mesmo uma tristeza. O Coração de Deus se apertou ao ver Suas criaturas mergulhadas naquela faina interminável de saciar desejos. Ele viu o quanto elas eram solitárias e sem objetivo, afastando-se cada vez mais do Centro onde foram geradas. E Nosso Senhor sentiu imensa compaixão de Suas criaturas.
No mesmo instante, do Seu Peito Divino começou a brotar uma ternura infinita que envolveu o Mundo como uma rede de matéria invisível. Muito mais tarde, algumas criaturas investigadoras começaram a desconfiar da presença dessa rede e lhe deram o nome de “matéria ou energia escura”. E a ternura divina espalhou-se e impregnou cada porção da matéria e fez com que doravante os corpos, em vez de se afastarem indefinidamente, sem rumo e sem sentido, permanecessem juntos e estáveis, para Seu deleite.
Por acaso, naquele dia em que o Criador viu nascer Sua Misericórdia, Ele estava olhando para um pequeno planeta de uma insignificante estrela na periferia de uma modesta galáxia, nos cafundós do Universo. Ele lhe deu o nome de Terra, e viu que, ao dar-lhe um nome, imediatamente estabelecia-se entre ambos um vínculo de afeto indissolúvel. E Nosso Senhor viu que isso era bom, e passou a emitir o Seu Verbo para unir-Se indissoluvelmente com Suas criaturas.
O Verbo de Deus, fecundando o planetinha, fez com que surgissem novas espécies de criaturas na superfície. Brotaram ali infinitas espécies minerais, vegetais e animais, cada qual mais complexa, alimentando-se umas das outras e recebendo as Radiações do seu Sol local. Até que, dentro da cadeia evolutiva, surgiu um novo tipo de animal-homem dotado de habilidades destacadas em todo o singular Reino Orgânico da Terra.
E o Senhor desperto, que havia criado o Universo com Sua Consciência; que o havia animado e alimentado com Sua Vida e que lhe havia dado a possibilidade de autossustentar-se com Seu Amor, acompanhou com especial interesse essa nova criatura.  Ele via com curiosidade o Homem e, especialmente, as formas que nele haviam tomado as características que lhe couberam por hereditariedade: Consciência, Vida e Amor.
O Criador acompanhou com Seu olhar todos os passos do homem. Suas lutas, seus sofrimentos, suas conquistas e vergonhas. Ele viu que em todas as coisas que o homem fazia, tais como cultivar a terra, relacionar-se, festejar, procriar, estudar ou guerrear, estavam sempre presentes as características divinas, porém, completamente deturpadas pela ignorância do bicho-homem em relação à sua própria origem. De fato, o homem estava bem longe, no Universo, do Grande Sol Central, e embora a Divina Radiação o envolvesse por completo, ele de nada suspeitava e acreditava que estava entregue a si próprio, mergulhado em sofrimento e angústia.
Então, no meio do infinito dos dias, aconteceu uma coisa que fez o Coração de Deus dar um salto em Seu Peito, abalado por forte e inesperada emoção. É que um daqueles seres insignificantes no Universo chamados Homens, em meio ao seu trabalho diário, depôs a enxada um instante, sem razão aparente e, enxugando o suor da testa olhou para o céu infinito, como quem procura alguma coisa perdida. E o Senhor Deus ouviu perfeitamente quando esse primeiro homem, em seu coração, clamou: “Pai...!”. E Deus viu que nem tudo estava perdido, afinal.
 
Márcia Kondratiuk/2016
 
 
 
 
 
 


domingo, 3 de janeiro de 2016

Uma boa meta para um buscador



Neste final de ano recebi uma mensagem de uma pessoa muito especial que dizia assim:   

“Gratidão eterna! Pelo jardim que nos acolhe, pela luz que nos ilumina, pelo amor que nos preenche...!”

Nada mais importante para se iniciar o ano. Primeiramente pelo sentimento de gratidão, que é algo de outro plano de ser. Mas também porque, em um plano mais terreno, se conseguirmos olhar para estas coisas, olhar grande, e agradecer – ao Planeta (jardim-vida), ao Sol (luz-consciência) e ao Infinito Criador (amor) – significa que saímos, por alguns instantes ao menos, da identificação e da consideração (1).

Desgrudar-se da identificação e da consideração que permeiam todas as nossas relações com o mundo, com as pessoas e com nossos próprios centros (2) é o primeiro grande passo em direção à liberdade de ser...

Creio que não existe meta maior para um buscador. Tê-la em mente no Ano Novo, antes que se torne imediatamente velho, condicionado pela mecanicidade de nossas reações e os delírios da nossa imaginação, parece-me algo muito promissor.

Seja este, portanto, o DO inicial destas nossas conversas: lembrarmos que envoltos pela consideração, ou seja, pela nossa autoimportância, nossa autojustificação, nossa autocomplacência, o sentimento de que somos injustiçados e que o mundo nos deve algo, etc. – envoltos por essa espécie de cegueira subjetiva não podemos enxergar realmente nada. Não podemos apreciar todas as dádivas que recebemos neste Jardim Terrestre nem vislumbrar as vias que nos conectam ao Jardim Celeste, nossa verdadeira origem.

Então, para 2016 sugiro o que talvez seja a maior meta para todos nós: resistir à consideração, abrir os olhos e despertar.

OBS.:

(1)   Identificação e consideração: são alguns dos conceitos básicos do ensinamento gurdjeffiano, expostos, entre outros, nos livros “Em Busca do Milagroso” e “A Psicologia da Evolução Possível ao Homem”, de Piotr Ouspenski.

(2)  Nossos centros: Intelectual, Emocional, Motor, Biossexual – idem.
 

Um Muito Realmente Novo Ano para Todos!!!

Marciak