(do livro de “A
Mãe”)
Diz
a Mãe que a vida espiritual, ao contrário das práticas que sacrificam o corpo,
é uma vida de luz, equilíbrio, beleza e alegria.
O
mais difícil de tudo é manter sempre sua consciência no ápice de sua
capacidade, sem nunca permitir ao corpo agir sob o efeito de um impulso
inferior.
As
quatro disciplinas (ou austeridades) que a Mãe descreve podem ser classificadas
como:
I
- Física – da beleza (refere-se à liberdade na ação);
II
– Vital – do poder (refere-se à psique, às sensações e emoções);
III
– Mental – do conhecimento (refere-se ao controle do pensamento e da fala);
IV
– Emocional – do amor (refere-se ao sentimento e ao desapego)
.
Falando da austeridade do Físico, ela diz que:
Devemos
construir em nós nervos de aço em músculos elásticos e poderosos para poder
suportar tudo, quando isto for indispensável.
Antes
do sono, recomenda-se meditação; durante o dia, exercícios e trabalho.
Quanto
ao nosso trabalho, não tenhamos preferência por fazer isto e não aquilo, mas
façamos com interesse tudo o que fizermos, buscando nos aperfeiçoar sempre.
É
importante abster-se de toda busca de prazer, inclusive o sexual.
Se
quisermos preparar-nos para a vida supramental, não devemos nunca permitir que
nossa consciência deslize para o desleixo e a inconsciência, sob um pretexto de
prazer ou mesmo de repouso e relaxamento.
É
na força e na luz que o descanso deve acontecer, não na obscuridade e na
fraqueza.
É
preciso recusar o prazer, se quisermos abrir-nos à alegria de ser na beleza e
harmonia totais.
.
Falando sobre a austeridade do Vital:
O
Vital tem 3 fontes de subsistência:
1)
Energias
físicas (sensações)
2) Forças vitais
universais
3)
Forças
e aspiração espirituais (somente aquele que busca) e troca de forças vitais (a
dois)
A
sensação é um excelente meio de conhecimento e de educação, mas para servir a
esses fins ela não deve ser utilizada egoisticamente, numa procura de prazer.
Os
sentidos devem ser capazes de suportar tudo sem desgosto nem desprazer.
Mas,
ao mesmo tempo, precisam (os sentidos) adquirir e desenvolver cada vez mais o
poder de discernir a qualidade, a origem e o efeito das diversas vibrações
vitais (se são favoráveis ou não à saúde, ao equilíbrio, à beleza, ao progresso
do físico e do vital).
Os
sentidos são instrumentos de aproximação e de estudo dos mundos físico e vital.
A
escolha das sensações (e seu controle) deve ser feita com uma austeridade toda
científica, visando somente ao crescimento e aperfeiçoamento do vital.
.
Falando sobre a austeridade do Mental:
Há
uma austeridade muito maior e mais fecunda no controle da fala do que em sua
abolição (silêncio).
Diz
ela: “Eu chamo de tagarelice todas as palavras pronunciadas sem que sejam
absolutamente indispensáveis”.
E
exemplifica:
-
As palavras ditas por razões materiais: adquira o hábito de não se exteriorizar
constantemente em palavras pronunciadas em voz alta;
-
As palavras que exprimem as sensações, os sentimentos, as emoções: o hábito de
guardar silêncio externo ajuda nos momentos emocionais;
-
As palavras que expressam ideias ou opiniões: evite discussões a qualquer
custo;
-
As palavras que expressam um ensinamento: não emprestemos nossa boca para que
vibrações más sejam projetadas na atmosfera, porque nada é mais contagioso do
que as vibrações do som; se damos a esses movimentos as condições de se
exprimirem, estaremos perpetuando-os em nós e nos outros.
Entre
os mais indesejáveis tipos de tagarelice deve-se incluir tudo o que é dito a
respeito dos outros.
A
menos que sejamos responsáveis por certas pessoas, como guardiães, instrutores
ou chefes, não temos nada a ver com o que os outros fazem ou deixam de fazer.
É
preciso abster-se de falar dos outros, de dar opinião sobre eles e sobre o que
fazem, ou mesmo de repetir o que os outros podem pensar e dizer deles.
Em
todos os casos e de uma maneira geral, quanto menos se fala dos outros, mesmo
para elogiar, é melhor.
Quando
o pensamento é exprimido pela palavra, a vibração do som tem um poder
considerável de colocar a substância mais material em contato com esse
pensamento e dar-lhe assim uma realidade concreta e efetiva. É por isso que não
se deve nunca maldizer as pessoas e as coisas.
Nenhuma
crítica deve ser feita, a não ser por um mestre – que tem o poder e a vontade
suficientes para desfazer ou transformar as coisas criticadas.
Todo
sectarismo torna-se impossível quando se sabe que todo pensamento formulado é
apenas uma maneira de dizer alguma coisa que escapa a toda expressão.
Cada
ideia contém um pouco da verdade ou um aspecto da verdade, mas não há ideia que
seja em si mesma absolutamente verdadeira.
O
valor de uma ideia existe em função de seu poder magnético. Uma grande ideia
que tem sobre um indivíduo um grande poder impulsionador, em um outro pode
falhar totalmente.
No
entanto, esse poder (da ideia) é, ele mesmo, contagioso. Certas ideias são
capazes de transformar o mundo. São estas que devem ser exprimidas.
Na
educação, a necessidade geralmente reconhecida de distração, relaxamento no
esforço, esquecimento longo e total do objetivo da vida não deve ser
considerada natural nem indispensável, mas sim uma fraqueza.
Pode-se
tagarelar até mesmo sobre os assuntos espirituais, e essas tagarelices talvez
estejam entre as mais perigosas.
No
que tange à vida interior e ao esforço espiritual, o uso da palavra deve ser
submetido a uma regulamentação ainda mais estrita, e nada deve ser dito a menos
que seja absolutamente indispensável dizê-lo.
Não
devemos nunca falar de nossas experiências espirituais se não quisermos ver
dissipar-se num instante a energia acumulada na experiência e que deveria
servir para apressar nosso progresso.
A
única exceção a essa regra é em relação a nosso mestre ou guru, se quisermos
obter dele algum esclarecimento ou ensinamento sobre o conteúdo e o significado
da experiência realizada.
O
próprio mestre está submetido à mesma regra de silêncio. Na natureza tudo está
em movimento e aquele que não avança, recua necessariamente.
“Em
todos os casos” – diz a Mãe – “sê fiel ao teu guru; ele te levará tão longe
quanto puderes ir”.
Se
quisermos que nossa palavra exprima a verdade e que assim adquira o poder do
Verbo, nunca pensemos com antecedência nem decidamos o que é bom ou ruim dizer;
não calculemos o efeito do que vamos dizer. Sejamos silenciosos mentalmente e
nos mantenhamos sem hesitar na atitude verdadeira.
Se
nossa aspiração for sincera, se ela não é uma capa para nossa ambição de fazer
as coisas bem e obter sucesso, se ela for pura, espontânea e integral, então
poderemos falar muito simplesmente e pronunciar as palavras que devem ser
ditas, nem mais nem menos, e elas terão um poder criador.
.
Falando sobre a austeridade do Amor:
A
natureza serve-se do amor para levar o homem, através da união com outros, a
recuperar a unidade primordial, tirando-o de seu egoísmo.
Dentre
os satisfeitos com a vida (natureza) como ela é estão os chamados “otimistas”:
a estes não tente jamais converter, pois não sentem falta de nada.
Há
também os que estão satisfeitos porque, através do amor por outros e a doação,
nesse esquecimento de si encontram um reflexo das maravilhas do amor divino.
Porém,
para o que busca, isto é muito pouco. Este deve rejeitar toda forma de amor
entre seres humanos, pois, por mais belo que seja, ele produz uma espécie de
curto-circuito e corta a conexão direta com o Divino.
Uma
vez que decidamos reservar o amor em seu esplendor para nossa relação pessoal
com o Divino, nós o substituiremos em nossas relações com os outros por uma
benevolência e uma boa vontade totais e invariáveis, constantes e sem egoísmo.
Não
esperaremos dos outros recompensa alguma, agradecimento algum, reconhecimento
algum.
Seja
como for que os outros o tratem, não permita nunca que algum sentimento ruim se
apodere de você.
Em
seu amor sem mistura pelo Divino, (se for maltratado), você O deixará ser seu
único juiz no que se refere à maneira de se proteger e se defender contra a
incompreensão e a má vontade dos outros.
É
só do Divino que você esperará novas alegrias e seus prazeres. É só Nele que
você buscará e encontrará a ajuda e o apoio.
Ele
(o Divino) o consolará em todas as suas dores, conduzi-lo-á no caminho,
erguê-lo-á se você tropeçar, e se existirem momentos de fraqueza e exaustão,
Ele próprio receberá você em seus poderosos braços de amor e o envolverá com sua
doçura reconfortante.
Em
resumo, a austeridade do sentimento consiste em abandonar todo apego afetivo,
seja qual for a sua natureza – amorosa, familiar, patriótica ou outra – para se
concentrar num apego exclusivo à Realidade Divina.
.
Resumo
Todas
as austeridades referem-se a uma busca de liberdade:
-
sentimentos – a libertação do sofrimento (apegos);
-
mental – a libertação da ignorância (conceitos);
-
vital – a libertação dos desejos (emoções);
-
física – a libertação do karma (leis físicas).
Pelo
domínio total de nós mesmos, não seremos mais escravos das leis da natureza,
que nos fazem agir por impulsos subconscientes e semiconscientes e nos mantêm
na trilha da vida comum (mecanicidade).
Graças
a essa (quádrupla) libertação, é com pleno conhecimento de causa que podemos
escolher o caminho a seguir, escolher a ação a ser realizada e nos desprender
de todo determinismo cego, para só deixarmos intervir no curso da vida a
vontade mais alta, o conhecimento mais verdadeiro, a consciência supramental.
Foram palavras da
“Mãe”, em seu livro “As Quatro Austeridades”, que selecionei para
o proveito de quem se interessar.
MOCK