sábado, 8 de março de 2014

AS QUATRO AUSTERIDADES


(do livro de “A Mãe”)
 

Diz a Mãe que a vida espiritual, ao contrário das práticas que sacrificam o corpo, é uma vida de luz, equilíbrio, beleza e alegria.

O mais difícil de tudo é manter sempre sua consciência no ápice de sua capacidade, sem nunca permitir ao corpo agir sob o efeito de um impulso inferior.

As quatro disciplinas (ou austeridades) que a Mãe descreve podem ser classificadas como:

I - Física – da beleza (refere-se à liberdade na ação);

II – Vital – do poder (refere-se à psique, às sensações e emoções);

III – Mental – do conhecimento (refere-se ao controle do pensamento e da fala);

IV – Emocional – do amor (refere-se ao sentimento e ao desapego)

. Falando da austeridade do Físico, ela diz que:

Devemos construir em nós nervos de aço em músculos elásticos e poderosos para poder suportar tudo, quando isto for indispensável.

Antes do sono, recomenda-se meditação; durante o dia, exercícios e trabalho.

Quanto ao nosso trabalho, não tenhamos preferência por fazer isto e não aquilo, mas façamos com interesse tudo o que fizermos, buscando nos aperfeiçoar sempre.

É importante abster-se de toda busca de prazer, inclusive o sexual.

Se quisermos preparar-nos para a vida supramental, não devemos nunca permitir que nossa consciência deslize para o desleixo e a inconsciência, sob um pretexto de prazer ou mesmo de repouso e relaxamento.

É na força e na luz que o descanso deve acontecer, não na obscuridade e na fraqueza.

É preciso recusar o prazer, se quisermos abrir-nos à alegria de ser na beleza e harmonia totais.

. Falando sobre a austeridade do Vital:

O Vital tem 3 fontes de subsistência:

1)      Energias físicas (sensações)

2)     Forças vitais universais

3)      Forças e aspiração espirituais (somente aquele que busca) e troca de forças vitais (a dois)
 

A sensação é um excelente meio de conhecimento e de educação, mas para servir a esses fins ela não deve ser utilizada egoisticamente, numa procura de prazer.

Os sentidos devem ser capazes de suportar tudo sem desgosto nem desprazer.

Mas, ao mesmo tempo, precisam (os sentidos) adquirir e desenvolver cada vez mais o poder de discernir a qualidade, a origem e o efeito das diversas vibrações vitais (se são favoráveis ou não à saúde, ao equilíbrio, à beleza, ao progresso do físico e do vital).

Os sentidos são instrumentos de aproximação e de estudo dos mundos físico e vital.

A escolha das sensações (e seu controle) deve ser feita com uma austeridade toda científica, visando somente ao crescimento e aperfeiçoamento do vital.

. Falando sobre a austeridade do Mental:

Há uma austeridade muito maior e mais fecunda no controle da fala do que em sua abolição (silêncio).

Diz ela: “Eu chamo de tagarelice todas as palavras pronunciadas sem que sejam absolutamente indispensáveis”.

E exemplifica:

- As palavras ditas por razões materiais: adquira o hábito de não se exteriorizar constantemente em palavras pronunciadas em voz alta;

- As palavras que exprimem as sensações, os sentimentos, as emoções: o hábito de guardar silêncio externo ajuda nos momentos emocionais;

- As palavras que expressam ideias ou opiniões: evite discussões a qualquer custo;

- As palavras que expressam um ensinamento: não emprestemos nossa boca para que vibrações más sejam projetadas na atmosfera, porque nada é mais contagioso do que as vibrações do som; se damos a esses movimentos as condições de se exprimirem, estaremos perpetuando-os em nós e nos outros.

Entre os mais indesejáveis tipos de tagarelice deve-se incluir tudo o que é dito a respeito dos outros.

A menos que sejamos responsáveis por certas pessoas, como guardiães, instrutores ou chefes, não temos nada a ver com o que os outros fazem ou deixam de fazer.

É preciso abster-se de falar dos outros, de dar opinião sobre eles e sobre o que fazem, ou mesmo de repetir o que os outros podem pensar e dizer deles.

Em todos os casos e de uma maneira geral, quanto menos se fala dos outros, mesmo para elogiar, é melhor.

Quando o pensamento é exprimido pela palavra, a vibração do som tem um poder considerável de colocar a substância mais material em contato com esse pensamento e dar-lhe assim uma realidade concreta e efetiva. É por isso que não se deve nunca maldizer as pessoas e as coisas.

Nenhuma crítica deve ser feita, a não ser por um mestre – que tem o poder e a vontade suficientes para desfazer ou transformar as coisas criticadas.

Todo sectarismo torna-se impossível quando se sabe que todo pensamento formulado é apenas uma maneira de dizer alguma coisa que escapa a toda expressão.

Cada ideia contém um pouco da verdade ou um aspecto da verdade, mas não há ideia que seja em si mesma absolutamente verdadeira.

O valor de uma ideia existe em função de seu poder magnético. Uma grande ideia que tem sobre um indivíduo um grande poder impulsionador, em um outro pode falhar totalmente.

No entanto, esse poder (da ideia) é, ele mesmo, contagioso. Certas ideias são capazes de transformar o mundo. São estas que devem ser exprimidas.

Na educação, a necessidade geralmente reconhecida de distração, relaxamento no esforço, esquecimento longo e total do objetivo da vida não deve ser considerada natural nem indispensável, mas sim uma fraqueza.

Pode-se tagarelar até mesmo sobre os assuntos espirituais, e essas tagarelices talvez estejam entre as mais perigosas.

No que tange à vida interior e ao esforço espiritual, o uso da palavra deve ser submetido a uma regulamentação ainda mais estrita, e nada deve ser dito a menos que seja absolutamente indispensável dizê-lo.

Não devemos nunca falar de nossas experiências espirituais se não quisermos ver dissipar-se num instante a energia acumulada na experiência e que deveria servir para apressar nosso progresso.

A única exceção a essa regra é em relação a nosso mestre ou guru, se quisermos obter dele algum esclarecimento ou ensinamento sobre o conteúdo e o significado da experiência realizada.

O próprio mestre está submetido à mesma regra de silêncio. Na natureza tudo está em movimento e aquele que não avança, recua necessariamente.

“Em todos os casos” – diz a Mãe – “sê fiel ao teu guru; ele te levará tão longe quanto puderes ir”.

Se quisermos que nossa palavra exprima a verdade e que assim adquira o poder do Verbo, nunca pensemos com antecedência nem decidamos o que é bom ou ruim dizer; não calculemos o efeito do que vamos dizer. Sejamos silenciosos mentalmente e nos mantenhamos sem hesitar na atitude verdadeira.

Se nossa aspiração for sincera, se ela não é uma capa para nossa ambição de fazer as coisas bem e obter sucesso, se ela for pura, espontânea e integral, então poderemos falar muito simplesmente e pronunciar as palavras que devem ser ditas, nem mais nem menos, e elas terão um poder criador.

. Falando sobre a austeridade do Amor:

A natureza serve-se do amor para levar o homem, através da união com outros, a recuperar a unidade primordial, tirando-o de seu egoísmo.

Dentre os satisfeitos com a vida (natureza) como ela é estão os chamados “otimistas”: a estes não tente jamais converter, pois não sentem falta de nada.

Há também os que estão satisfeitos porque, através do amor por outros e a doação, nesse esquecimento de si encontram um reflexo das maravilhas do amor divino.

Porém, para o que busca, isto é muito pouco. Este deve rejeitar toda forma de amor entre seres humanos, pois, por mais belo que seja, ele produz uma espécie de curto-circuito e corta a conexão direta com o Divino.

Uma vez que decidamos reservar o amor em seu esplendor para nossa relação pessoal com o Divino, nós o substituiremos em nossas relações com os outros por uma benevolência e uma boa vontade totais e invariáveis, constantes e sem egoísmo.

Não esperaremos dos outros recompensa alguma, agradecimento algum, reconhecimento algum.

Seja como for que os outros o tratem, não permita nunca que algum sentimento ruim se apodere de você.

Em seu amor sem mistura pelo Divino, (se for maltratado), você O deixará ser seu único juiz no que se refere à maneira de se proteger e se defender contra a incompreensão e a má vontade dos outros.

É só do Divino que você esperará novas alegrias e seus prazeres. É só Nele que você buscará e encontrará a ajuda e o apoio.

Ele (o Divino) o consolará em todas as suas dores, conduzi-lo-á no caminho, erguê-lo-á se você tropeçar, e se existirem momentos de fraqueza e exaustão, Ele próprio receberá você em seus poderosos braços de amor e o envolverá com sua doçura reconfortante.

Em resumo, a austeridade do sentimento consiste em abandonar todo apego afetivo, seja qual for a sua natureza – amorosa, familiar, patriótica ou outra – para se concentrar num apego exclusivo à Realidade Divina.

. Resumo

Todas as austeridades referem-se a uma busca de liberdade:

- sentimentos – a libertação do sofrimento (apegos);

- mental – a libertação da ignorância (conceitos);

- vital – a libertação dos desejos (emoções);

- física – a libertação do karma (leis físicas).

Pelo domínio total de nós mesmos, não seremos mais escravos das leis da natureza, que nos fazem agir por impulsos subconscientes e semiconscientes e nos mantêm na trilha da vida comum (mecanicidade).

Graças a essa (quádrupla) libertação, é com pleno conhecimento de causa que podemos escolher o caminho a seguir, escolher a ação a ser realizada e nos desprender de todo determinismo cego, para só deixarmos intervir no curso da vida a vontade mais alta, o conhecimento mais verdadeiro, a consciência supramental.

Foram palavras da “Mãe”, em seu livro “As Quatro Austeridades”, que selecionei para o proveito de quem se interessar.

MOCK