sexta-feira, 3 de agosto de 2012

UMA PITADINHA DE GURDJIEFF



Um século depois que G. I. Gurdjieff começou a ensinar publicamente (1912), seu legado - suas ideias e práticas, seus grupos de discípulos, seus livros, suas músicas e os registros deixados em livros e filmes pelos primeiros discípulos estão presentes no mundo todo, com o mesmo vigor dos grupos originais. Em cada país e em cada cultura, a despeito da diversidade, o Quarto Caminho é um só e o mesmo, mas cada grupo manifesta seu desenvolvimento e experiências de um modo próprio. Quem quer que tenha tido contato com esse mestre inigualável, quer pessoalmente, quer por meio de outro mestre formado na linha de transmissão do ensinamento, ou por meio de sua obra escrita ou música, tocou algo de fundamental para a trajetória de seu ser. O grupo Gurdjieff em São Paulo, situado na rua Augusta, é um representante legítimo desse Conhecimento que não se limita a palavras escritas e aprendidas, mas a um modo de vida totalmente novo dentro da vida comum. As palavras, os atos, a vida de G. I. Gurdjieff continuam alimentando de um modo muito misterioso todos aqueles que têm fome de vida verdadeira mas não querem abdicar de seu potencial de compreensão e, por isso, não se interessariam por uma via mística.

Trazemos aqui, para aqueles que se interessam em conhecer tudo a respeito do mestre Gurdjieff, alguns links interessantes capturados na web.

O primeiro - Gurdjieff Suite Oriental Orchestra - são mais de 3 horas de música de Gurdjieff tocada ao modo oriental:

http://www.youtube.com/watch?v=tNKykqnllp0&feature=related


O segundo - um documentário caseiro (sem som) com cenas do mestre em viagem pela Europa:



E o terceiro - um filme de quase 1 hora sobre a vida do mestre, com todo contexto histórico desde seu nascimento e citação de trechos de seus livros. Infelizmente não está legendado e a narração é toda em russo, mas para quem viu o filme de Peter Brooks "Encontros com Homens Notáveis" e conhece algo da trajetória do mestre desde que começou a formar grupos em Moscou, transferindo-se para vários lugares do mundo devido às guerras - como Constantinopla, Tibilissi, até finalmente estabelecer-se na França; o grave acidente que sofreu antes de se dedicar a escrever "De Tudo e Todas as Coisas", etc, é possível acompanhar as cenas e recordar:



NOTAS - Se o link não abrir nesta página (Ctrl + clique), coloque o endereço no Youtube.

O site do grupo Gurdjieff da rua Augusta é: www.ogrupo.org.br

A ilustração desta página é do pintor russo Vladimir Kush "Geometria Divina".


Marcia Ka



quarta-feira, 6 de junho de 2012

Diário Espiritual



O MENTAL É UM FACHO DE LUZ QUE, QUANDO VOLTADO PARA DENTRO, PROPICIA O DESENVOLVIMENTO DO NOSSO SER. NÃO O DESPERDICEMOS ILUMINANDO APENAS AS SUPERFLUIDADES DO MUNDO.

PASSAMOS NOSSA VIDA CONSTRUINDO UMA PERSONALIDADE PARA PROTEGER NOSSA ESSÊNCIA. E QUANDO, NA IDADE MADURA, ELA FINALMENTE ESTÁ PRONTA, PERCEBEMOS QUE A ESSÊNCIA FOI ESQUECIDA E ERA NA VERDADE TUDO O QUE IMPORTAVA.

A COMPREENSÃO SEM PALAVRAS SE DÁ QUANDO UNIMOS OS TRÊS CENTROS - MENTAL, EMOCIONAL E FISIOLÓGICO EM UMA MESMA INTENÇÃO. NESSE MOMENTO SOMOS INTEIROS, ESTAMOS PRESENTES, E "SENTIR" É SINÔNIMO DE "SABER".






terça-feira, 5 de junho de 2012

Centenário do Trabalho em Moscou

CONFERÊNCIA: “GURDJIEFF – CENTENÁRIO DE TRABALHO E EXPERIMENTAÇÕES”, MOSCOU, 2012.

Em 1912, depois de anos de experimentação e antes da deflagração de revolução e guerras em uma escala sem precedentes, num momento em que o velho mundo estava sendo dissolvido e o novo mundo ainda não havia nascido, G. I. Gurdjieff trouxe seu ensinamento do Quarto Caminho à Rússia.  “Começo na Rússia, final na Rússia”, disse Gurdjieff, mas o que essa frase significa?

Durante os últimos cem anos, o que exatamente realizamos e como podemos fazê-lo melhor? Penso que todos nós concordamos que o Trabalho é indispensável, não somente para nossa evolução pessoal, mas para a sobrevivência do mundo em que vivemos. Mas estará nosso Trabalho suficientemente maduro para ser capaz de preparar o terreno para o Bem que há de vir?

No ano de 2012 planejamos homenagear o centenário do nascimento do Trabalho aqui em Moscou organizando uma Conferência Internacional. O objetivo principal dessa Conferência é examinar a influência do Trabalho de Gurdjieff no mundo e em nós mesmos.

A Conferência acontecerá de 5 a 7 de Outubro de 2012. Apresentações e mesas redondas de discussão estão previstas para os dias 5 e 6 de Outubro, enquanto o dia 7 será destinado ao turismo e a reuniões informais.

A participação na Conferência é voluntária. A Conferência não cobre despesas de viagem para e de Moscou, nem de acomodações; entretanto, estamos abertos para facilitar a boa escolha de hotéis.

Todos aqueles que desejarem tomar parte na Conferência e fazer uma apresentação devem enviar-nos uma confirmação de sua intenção com um breve Abstract da apresentação e uma curta biografia, com antecedência de um mês. A Conferência oferece diversas atividades mesmo para aqueles que não farão apresentações: eles terão oportunidade de encontrar-se com pessoas de diferentes partes do mundo interessadas no legado de Gurdjieff, participar das discussões, comunicar-se com outros participantes e fazer turismo em Moscou.

Um grande número de pessoas dos Estados Unidos, Europa e diferentes partes da Rússia já confirmaram sua intenção de participar da Conferência. Você pode convidar seus amigos ou qualquer um que se sinta entusiasmado com esse evento.

Para mais detalhes, por favor, contate: Halyna Savchenko, Coordenadora da Conferência – hs(at)gurdjieffclub.com


(Comunicação publicada em inglês no site http://www.gurdjieffclub.com/ / tradução de Marcia Ka)

terça-feira, 3 de abril de 2012

Mais Histórias



Uma noite mágica


As contações de histórias na Escola Gurdjieff, desde que começaram há mais de uma década, vêm se sofisticando em forma e em conteúdo e sempre surpreendendo. Foi o que aconteceu neste fim de semana em que apresentaram as histórias “O Soldado que foi para o Céu e para o Inferno” e “Wolf e a Mulher Selvagem”. Uma noite cheia de magia. Como das outras vezes, as intensas impressões ficarão conosco durante muito tempo e, se as soubermos apreciar, irão derramando silenciosamente o seu conteúdo de ensinamento e de esperança.


Duas esplêndidas histórias que se entrelaçam sutilmente, embora aparentemente nada tenham em comum. A primeira, leve, divertida, como que prepara nosso espírito para a segunda. Somos colocados impiedosamente diante de nossas ilusões e de nosso sono, de nossas crenças arraigadas sobre o Bem e o Paraíso, e sobre o Mal e o Inferno, ambas responsáveis por nossa inconsequência em viver a única vida que temos aqui na Terra, esperando ingenuamente que as coisas para nós se resolvam magicamente depois que morrermos. Na figura de Lauro, o soldado cheio de vida e virilidade chega à conclusão de que nada há de mais perfeito para o ser humano do que esta vida, e que no tempo presente é que se encontram todas as possibilidades.


Possibilidades de quê? Além do pleno gozo da vida, que é mostrado na primeira história, a segunda vai nos revelar que aqui também é o plano em que podemos nos transformar. Nesse sentido, “Wolf e a Mulher Selvagem” é uma história profundamente esotérica. Se num primeiro nível ela acompanha o ciclo das histórias que mostram almas lindas em corpos horrendos ou corpos lindos com almas horrendas - como a Bela e a Fera e todos os contos em que princesas e príncipes estão enfeitiçados sob uma aparência repugnante ou bruxas aparecem como rainhas belíssimas -, a história apresentada pela equipe do Lauro avança para outro nível bem menos acessível, que são as possibilidades de transmutação do ser que esta vida no Planeta nos oferece. Tanto para baixo quanto para cima - os personagens se transformam ora em bestas, abaixo de humanos, como o Touro em que o pastor Wolf se converteu ou a própria Elzy, a mulher-fera, quanto em semideuses, como Arhat, a rainha que estivera presa sob a forma selvagem de Elzy até ser capaz de inspirar o amor de um homem sob essa forma triste. Em todos os casos, no jogo das aparências apenas um critério parece determinante para a evolução ou involução da qualidade de ser: a capacidade que a pessoa demonstra de apreciar e de servir. É algo maravilhoso, realmente demais para uma só noite de história.

A equipe de músicos foi, mais uma vez, grande auxiliar na fruição dessas impressões. A primeira canção foi como um hino de amor à vida e ao Criador que o público acompanhou com entusiasmo: “Não tenho ambição neste mundo/Mas sou rico da graça de Deus (...) A nossa vida é nascer e florescer/Para mais tarde morrer”. Essa mesma canção é repetida no final da segunda história, entrelaçando as duas e mostrando que, afinal, tudo começa mesmo com essa atitude e esse sentimento: primeiro, reconhecer o tesouro que se tem, e segundo, saber que nos é dado florescer. Aos companheiros que lindamente cantaram e dançaram para despertar em nós, com sua voz e seus corpos, esses sentimentos, o nosso obrigado!

Os atores da equipe mais uma vez nos encantaram. Além do Lauro, Carmem, Cida e Luís proporcionam momentos deliciosos, nos colocando não como ouvintes, mas dentro das histórias, vivendo e sofrendo com eles todas as peripécias. Um destaque muito especial para a atuação de Carmem como Elzy, a mulher-fera que fez todos chorarem em meio ao riso e torcerem intensamente para que ela alcançasse o tão sonhado amor, assim como todo ser humano anseia pela beleza que é o eco de sua alma. Na representação dessa noite, cheia de magias e transformações, ela não podia mais ser vista ali no palco; era o seu timbre de voz, mas não mais o corpo, os gestos, os sentimentos, as crenças. Era Elzy que estava ali para nos ensinar com sua experiência.


Obrigado a todos que tornaram possível mais esta apresentação inesquecível!

quinta-feira, 15 de março de 2012

A Divina Mãe, por Râmakrishna



A mãe do Universo e suas exibições / Criação do Mundo / A Divina Mãe e a Alma Liberta

Em certo momento é feita uma pergunta a Râmakrishna(*):

- Servi-vos dizer-nos uma vez mais, Reverendo Senhor, em que diferentes modos, Kâli, a Mãe do Universo, se faz manifesta neste mundo de suas exibições?

Sri Râmakrishna sorriu:

- Oh! A Mãe se recreia no mundo, Seu instrumento, sob vários aspectos e nomes. Ora é o Deus Incondicionado, Absoluto, sem forma (Mahâ-Kâli); ora o Permanente, como distinto de Suas obras (Nitya-Kâli). Sob outro aspecto, ela é a Deidade dos Ghâts ardentes ou crematórios, a tétrica Deidade que preside a morte; ora se apresenta ante nós disposta a abençoar e preservar Seus filhos; sob outro aspecto, Ela aparece agradável aos olhos de Seus devotos como a Mãe de cor azul-escura, Consorte do Deus da Eternidade e do Infinito.

Mahâ-Kâli e Nitya-Kâli são descritas assim nos sagrados livros dos Tantras: ‘Quando nada havia – nem sol, nem lua, nem planetas, senão tão só a Profunda Obscuridade, só existia minha Divina Mãe, Sem-forma, a Eterna Consorte do Infinito’. Como Mãe de cor azul-escura, Ela é terna e amorosa. Ela é doadora de todas as bênçãos e faz a seus filhos intrépidos. (...)

Agora contemplai Seu sistema de criação. No fim de um ciclo, depois da destruição do mundo, minha Mãe, como boa Matrona que é, põe juntas as sementes da criação. As donas de casa têm uma caçarola (...). Nela guardam a ‘espuma do mar’ no estado sólido, pequenos recipientes que contêm sementes de pepinos, abóbora etc. Tiram-nas dali quando necessitam. De maneira muito parecida, minha Mãe guarda as sementes da criação depois da destruição do mundo no fim de um ciclo.

Minha Mãe, a Energia Divina Primitiva está dentro e fora deste mundo fenomenal. Havendo dado conhecimento ao mundo, Ela vive nele. Nos Vedas achamos o exemplo da aranha e sua teia. Ela é a aranha e o mundo é a teia que teceu. A aranha produz a teia fenomenal de si mesma e logo vive nela. Minha Mãe é ambas as coisas: o Continente e o Conteúdo.

O Bhagavân cantou com Sua voz divina:

- Ó Mãe! Tu estás fazendo voar o papagaio de papel (do ser humano) na praça deste mundo.
Ele voa no vento da esperança, sujeito ao fio de Mâyâ.
Costelas, nervos e ossos constituem sua forma.
De tuas próprias qualidades, Tu fizeste o papagaio, para ostentar a Tua arte.
Torceste o fio com Mânjâ (pasta de erva pulverizada) do mundano e este foi se adelgaçando.
Entre centos de mil papagaios, só a um ou a dois cortaste o fio e são livres; e então, risonha, Tu aplaudes.
Prasâd disse: ‘Liberto assim o papagaio, voará com ventos benignos e cairá além do oceano deste mundo’.

Sri Râmakrishna continuou:

Minha Divina Mãe se recreia. O mundo é, em verdade, Seu desporto. Ela faz o que quer e é ditosa. É Sua alegria dar liberdade a um entre cem mil de Seus filhos.

Um brâmane pergunta:

- Senhor, Ela pode, se o deseja, fazer livre todo o mundo. Por que então nos ligou, de pés e mãos, com as cadeias do mundo?

Sri Râmakrishna:

- Bem, eu suponho que é Sua vontade. Sua vontade é recrear-se com todas essas coisas. No jogo das escondidas, qualquer que toca a Grande-dama fica fora. Já não corre mais. Se todos os jogadores tocam ao mesmo tempo a Grande-dama, como pode haver jogo?

(...)

(*) Extraído de “O Evangelho de Râmakrishna”, por Swâmi Abhedânanda, Ed. Pensamento, páginas 86 a 88.

quinta-feira, 1 de março de 2012

As Árvores







As árvores estão silenciosas, solenes
Mas não são melancólicas
Elas sabem que quando o sol nascer
As folhas vão explodir
Em brilho, cor, movimento, som.

Elas são modestas
Por isso não têm nenhuma ansiedade.
Não esperam ocultamente
Como eu, tirar algum proveito
De algum brilho que ocorreu.
Sabem que a Beleza é provisória
Pertence aos olhos de quem vê
O resto é o sol batendo na criação.

Elas não são cansadas de ontem
Como eu, que a cada manhã aprendo
Com a lição silenciosa das árvores.
Guardam a forma serena
De quem à raiz entregou toda fadiga
E apenas esperam em verde profundo
Em força plena,
Em calma e exercício de Ser,
Apenas o sol nascer.






Marcia K.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Produção de "Relatos de Belzebu a Seu Neto"








Paul Beekman Taylor escreveu um artigo* relatando suas pesquisas sobre a trajetória do monumental livro de Gurdjieff "Do Todo e Todas as Coisas", que chamou de "A Produção de Do Todo e Todas as Coisas: 1924 a 1950". Vemos que a trajetória da produção e divulgação do livro é quase tão instigante quanto seu próprio conteúdo, pois ele começou na forma de ditados esparsos, em 1924, em Nova York, feitos em russo a Lili Chaverdian, e só foi concluído quando Gurdjieff autorizou sua publicação, em 1949, para a primeira edição de 1950 - em inglês, a qual, aliás, serve de base para a nossa versão em português (via francês) e outras.


No mesmo artigo, Beekman relata que uma nova publicação ocorreu em 1992, em Toronto e em Moscou, sob justificativa de que a publicação anterior, de 1950, não corresponderia ao texto russo original escrito por Gurdjieff, mas consistiria numa tradução imperfeita. Isto é compreensível, levando-se em consideração a enorme diferença entre as duas línguas e a exígua quantidade de bons tradutores de russo, ainda hoje, no Ocidente. No entanto, através de evidências históricas e acesso a alguns originais, Beekman conclui que aquela tese não se justifica, por pelo menos dois motivos: 1º) Depois do primeiro texto completo em russo, já transposto para o inglês e editado por Orage, Gurdjieff teria introduzido muitas alterações no próprio texto em inglês, que assim tornou-se distante daquele primeiro; e 2º) O próprio Gurdjieff saberia inglês muito bem a ponto de saber que a versão da qual estava autorizando a publicação, em 1949, era, senão exatamente o que ele pretendia - pois reconhecia publicamente as limitações da língua inglesa, como de qualquer outra, para expressar suas ideias - pelo menos o melhor a que se havia podido chegar, depois de inúmeras versões, traduções, acréscimos e mudanças no texto, feitas, inclusive, com base nos resultados da leitura pública do livro a grupos de adultos e crianças, nas décadas de 30 e 40. Além disso, quando a primeira versão em inglês (talvez ainda não exatamente a que foi publicada em 1950) ficou pronta, Gurdjieff autorizou sua tradução em várias línguas, inclusive o russo. Ou seja, existe uma versão em russo que derivou da inglesa, como teria existido primitivamente uma versão inglesa que se originou do russo. Eis o resumo que Beekman faz desse percurso:

"1. Um texto em russo ditado e escrito em 1925 é a base.
2. Esse texto foi, em seguida, traduzido para o inglês em várias formas e editado, na primavera de 1925, por Orage e outros.
3. Revisões em russo foram feitas por Gurdjieff no decorrer de 1926.
4. Na segunda metade de 1927 e meados de 1928, um novo texto em inglês foi composto e editado.
5. Esse texto, modificado em 1929 em Nova York e na França, foi dado a Knopf e impresso em cópias mimeografadas, no outono de 1931.
6. Com alterações introduzidas ao longo dos anos, desde 1931, “Do Todo e Todas as Coisas” foi publicado em 1950 por Harcourt Brace em Nova York, e em Londres por Routledge & Kegan Paul."*


Por tudo isso, diz ele, torna-se quase impossível restabelecer, hoje em dia, a via que tomaram certas traduções, que muitas vezes partiram do russo e depois voltaram ao russo - sem contar o armênio que havia no texto original, que foi de imediato transposto para o russo. É muito interessante notar esse caráter de universalismo do livro "Relatos de Belzebu a Seu Neto", primeiro livro da série "Do Todo e Todas as Coisas", que assim incorporou em seu texto, altamente enigmático para não iniciados, muitas e muitas línguas, além da inevitável contribuição de muitas e muitas mãos que operaram em transposições, versões, edições, etc. - mãos essas que parece nunca terem sobrepujado o trabalho realizado por Orage para a existência do livro em escala mundial.


(*) Para ler o artigo completo em inglês, veja em http://www.gurdjieffclub.com/

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Aproximando-se do Eu real







Do ponto de vista do nosso eu mundano, o Eu real só pode ser descrito por meio daquilo que ele não é, por adjetivos que na nossa língua vêm precedidos de I, IN ou IM de negação:

INALCANÇÁVEL – ele não pode ser alcançado
IMPONDERÁVEL – não pode ser avaliado
INTANGÍVEL – não se pode tocar
INCALCULÁVEL – não se pode calcular
INEFÁVEL – não se pode exprimir
INAPREENSÍVEL – não se pode prender
INDEFINÍVEL – não se define
INVISÍVEL – não se vê
INCOMENSURÁVEL – não se pode medir
INCONCEBÍVEL – não se pode conceber
INDIZÍVEL – não se pode dizer
INCOMPREENSÍVEL – não se pode compreender
INCOGNOSCÍVEL – não se pode conhecer
INVARIÁVEL – não tem variações
INTRADUZÍVEL – não se pode traduzir em palavras
INFORMATADO / INFORMATÁVEL – não tem forma e não aceita forma


INDIVISÍVEL – não se divide
ILIMITADO – não tem limite
IMATERIAL – não tem corpo, mas habita o corpo
INTERIOR – não está fora do ser
INTEIRO – não lhe falta nenhuma parte
ÍNTEGRO – não foge de si mesmo
INFINITO – não tem fim
IMPERECÍVEL – nunca perece
IMANENTE – não se distingue do ser
INSEPARÁVEL – não se separa do ser
IMORTAL – nunca morre
INEGÁVEL – não se pode negar
INIGUALÁVEL – não se pode reproduzir
INCOMPARÁVEL – não se pode comparar
INDELÉVEL – não se dissipa
INDENE – não sofre dano ou prejuízo
IMPÁVIDO – não tem medo
IMPOLUTO – não é poluído
INCORRUPTÍVEL – não se corrompe
INALIENÁVEL – não se pode transferir
IMACULADO – não tem mácula
IMPERDÍVEL – não se pode perder
INTRÉPIDO – não tem hesitação ou temor
IMPERATIVO – não é governado, mas governa
INSOFISMÁVEL – não pode ser enganado
INCAPAZ DE MENTIR – não pode mentir, quem mente é o eu
IMPECÁVEL – não tem falha
IMUTÁVEL – nada o faz balançar
IMPESSOAL – não é da personalidade
INOCENTE – não tem culpa
INATO – não surge depois do nascimento; o eu sim.
INTRÍNSECO – não se desliga do ser
INVIOLÁVEL – não pode ser violado
IMPENETRÁVEL – não pode ser penetrado
INDESTRUTÍVEL – não pode ser destruído
INSUBSTITUÍVEL – não pode ser substituído
INCANSÁVEL – nunca se cansa
INQUEBRANTÁVEL – nunca desanima
INFALÍVEL – nunca falha
Etc... etc...

E é bom a gente se deter nesses não-conceitos e refletir sobre eles, porque assim, no escuro da negação do que o Eu real de fato é, a Mente se torna momentaneamente humilde, incapaz de se fixar em um único conceito ou resposta; então ela faz aquilo que a torna realmente grande: ela busca interiormente. Ela precisa ficar quieta e vazia, e sondar o âmago que contém todas as respostas. Então alguma coisa realmente positiva, mas para a qual certamente não existem palavras, pode se insinuar.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

ALGUNS MOMENTOS COM O SR. GURDJIEFF - VIDEO



















Este vídeo foi feito durante viagens que o Sr. Gurdjieff fez pela França em 1949, com discípulos da época. É um presente da tecnologia podermos vê-lo hoje em filme. Desfrutem.


http://www.gurdjieffclub.ru/fileadmin/flash/FlowPlayerDark.swf?allowfullscreen=TRUE&config={}

OBS.: Se não conseguir abrir o video, veja no site: www.gurdjieffclub.com

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Finito e Infinito





"A Presença é a luz que vem do Infinito. Quando chega a este planeta, parte dela se condensa e se solidifica, dando origem ao que chamamos “corpo”.

Portanto, olhando para o visível, não se esqueça de vislumbrar e sentir o invisível que o originou."(*)



(*) Extraído do Blog Espiritual da Escola Gurdjieff:







Comentário: Faça a experiência. O mundo se torna completamente diferente quando aquilo que você vê não é mais toda a montanha, mas apenas a ponta de um "iceberg" que emerge como forma material do mar onde residem todas as possibilidades do Espírito.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Reflexos











Não é muito fácil se importar em um mundo onde ninguém mais se importa. Todos se importam com a couve que cresce no seu quintal e com a imagem que os outros têm dele. Alguns se importam também com a quantidade de coisas que podem acumular. Como se essas coisas acumuladas depois da morte pudessem dar uma ideia do seu próprio valor. Mas quase ninguém se importa com o valor real das coisas. O valor real da couve que nasce em meu quintal é muito maior do que o lucro que ela pode me dar. O valor da digestão que dela faz meu estômago é infinitamente maior do que a ciência botânica que descreve as suas propriedades. A imagem que outros fazem de mim tem grande valor apenas como um espelho em que posso descobrir meus defeitos e fraquezas. Encobrir essas fraquezas de forma alguma faz de mim uma pessoa mais querida nem melhor. Disfarçar os defeitos e me enfeitar com qualidades que julgo possuir e quero que os outros acreditem que possuo apenas resulta em um cansaço enorme e um desperdício das nossas melhores energias. Damos imenso valor às coisas que possuímos porque acreditamos que elas refletem o que somos. Atribuímos a elas um poder que de fato não pertence a coisas inanimadas ou fictícias. Bens materiais são coisas inanimadas cujo valor transitório depende apenas do prazer que podem proporcionar. Com o tempo o prazer e o desejo vão mudando de lugar e as coisas vão perdendo o antigo valor. Beleza física ou juventude são coisas fictícias e relativas. Não podem ser considerados bens absolutos em si porque simplesmente refletem um bem que é inerente à pessoa e durarão enquanto durar esse bem interior. De acordo com isto o esforço de criar aparência tem um valor transitório e pode até ser um mal na medida em que mascarar uma necessidade real de beleza que é uma necessidade da alma. Acumular coisas materiais e imateriais que mascaram a nossa real necessidade não pode jamais levar-nos a lugar algum. Elas têm um valor de espelho e servem para espelhar a nossa humanidade. Podem ser comparadas ao brilho temporário e bruxuleante que as chamas da alma humana lhe derem. Ir pela vida tendo essa relação para com objetos ou bens nos torna incomensuravelmente ricos e possuidores de toda a Terra. Mas as pessoas se importam com ter a escritura das coisas e não em tê-las como aliadas em sua jornada de crescimento. O mesmo em muito maior grau se pode dizer das pessoas que nos coube encontrar em nossa jornada pela vida. Seu valor absoluto ou em relação à Criação está muito além da nossa capacidade de avaliar ou julgar. Mas seu valor relativo é sempre inestimável porque cada pessoa nos traz exatamente aquilo de que precisamos no momento. Não é uma necessidade transitória e por isso quase nunca nos damos conta de sua existência. As necessidades da nossa alma só podem ser satisfeitas com a ajuda de nossos semelhantes. Mas é claro que o primeiro movimento é da nossa própria alma que é dona e senhora do que dá ou recebe. Se ela percebe o valor incalculável de situações e pessoas que cruzam seu caminho então todo esse bem flui para o seu interior como um manancial de bênçãos. Perceber portanto é a única coisa que realmente importa. Apesar de não ser fácil sabê-lo em um mundo onde ninguém se importa.






terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Desanimar é não ver...








Uma das novas compreensões que custam ao velho mental é: tudo neste mundo é dois, isto é, todo fenômeno traz em seu bojo o contrário. Assim, também, logo ao atingirmos um estado de certa qualidade, a volta do pêndulo nos traz de novo ao que parece a aridez da vida comum - que parece ser, mas não é. A vida é divina em todas as suas instâncias; mesmo um pequenino verme ao se arrastar está proclamando isto. O sol que nasce a cada manhã reinaugura todas as possibilidades.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Uma Receita Especial

Para começar o Ano com o pé direito, nada melhor que privilegiar o ato de comer, comer bem, com prazer, saborear os alimentos indispensáveis ao nosso Ser com que a Natureza nos brindou.
Pensando nisso, trago aos leitores uma receita do Sr. Gurdjieff que descobri traduzindo um site russo. Não dá para saber se sua intenção, ao servi-la, era nutrir mais do que o corpo físico dos comensais...


SALADA DO SR. GURDJIEFF

Entre os grupos mais antigos, pessoas que tiveram contato com Gurdjieff ou com seus amigos
mais próximos mencionam sempre em suas conversas um prato que costumava figurar
em sua mesa e de que ele gostava muito, que ficou conhecido como a “Salada do
Senhor Gurdjieff”.

Embora tivesse este nome, o famoso preparado não se assemelhava ao que comumente
chamamos de “salada”. Conta uma discípula, Elena Zavolosnova: “Para ele, ‘salada’ designava uma mistura com aparência de sopa, com grande quantidade de especiarias e legumes crus que
lembrava mais uma sopa gazpacho consistente. Tomates maduros, pepinos frescos, cebola, pepinos em conserva e verduras eram marinados até ficarem com uma consistência espessa que exalava o aroma do endro fresco, com adição de sucos de frutas e chutney de gengibre.” Conta ela que tudo isso normalmente era servido em porções individuais numa pequena tigela, com uma ou duas colheradas de creme de leite azedo que lhe dava um sabor particular.

O Sr. Gurdjieff em pessoa preparava e servia a “Salada” em suas reuniões, mas não nas celebrações em família, como conta sua sobrinha Liúba Gurjiéva, e sim quando havia “alguém de visita pela primeira vez que pudesse ser surpreendido”.

Dizem que ele calculava a quantidade necessária de todos os ingredientes com as mãos,
e os líquidos com os olhos. Quando algo sobrava, era guardado numa vasilha de barro, em lugar frio.

Embora uma grande quantidade de ingredientes pudesse entrar em sua composição, como rabanetes, nozes, castanhas, azeitonas verdes sem caroço, ameixas secas cortadas, alcaparras, maçãs, catchup de tomate ou ovos duros, a receita básica da “Salada” que chegou até nossos dias é a seguinte:

RECEITA
DA SALADA DO SENHOR GURDJIEFF


“Nota: o chamado “centro de gravidade”
deste prato são os pepinos em conserva marinados de forma especial, com endro e
suco de endro. Estes pepinos encontram-se apenas nos autênticos
estabelecimentos gregos ou armênios, uma vez que eles os preparam para consumo
próprio, e precisam ser encomendados de antemão.”(*)

. 10 CEBOLAS graúdas do tipo “Bermuda” (picar ou ralar);
. 60 TOMATES maduros e firmes (cortar em cubos grandes) e seu suco;
. 10 PEPINOS médios (cortar em cubos grandes);
. 40 PEPINOS EM CONSERVA médios (cortar em cubos pequenos; a salmoura deve ser obrigatoriamente com endro);
. 3,8 litros de SALMOURA para marinar pepinos;
. 3 maços grandes de SALSINHA fresca;
. Uma boa quantidade de ENDRO fresco;
. 1,9 litros de SUCO DE GRAPEFRUIT;
. 1,9 litros de um bom SUCO DE MAÇÃ;
. 3,8 litros de autêntico CHUTNEY (o Sr. Gurdjieff utilizava o autêntico “Major Grey”);
. 3 latas pequenas de MOSTARDA DIJON ou outra mostarda picante;
. 450 gramas de AÇÚCAR CRISTAL;
. ESPECIARIAS: sal, pimenta preta, pimenta vermelha picante moída, pimentões e curry moído.

(*) Extraído do site russo http://www.areyou.ru/

BOM APETITE!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Sobre o nome "Tesskuano"

George Ivanovitch Gurdjieff não foi um escritor comum. Escreveu sua obra "Do Todo e de Tudo" não como um conjunto de fantasias e impressões subjetivas, tampouco como registro documental das atividades que realizou cumprindo o propósito de ministrar seu ensinamento àqueles que o desejassem, nem como forma de expressão poética. Ele a escreveu "segundo princípios inteiramente novos de raciocínio lógico" para realizar três tarefas fundamentais, sendo a primeira delas:
"Extirpar do pensar e do sentimento do leitor, sem piedade e sem o menor compromisso, as crenças e opiniões enraizadas há séculos no psiquismo dos homens, a propósito de tudo que existe no mundo".
Esta primeira tarefa, cumpre-a nos livros da Primeira Série chamados: "Relatos de Belzebu a Seu Neto - Crítica Objetivamente Imparcial da Vida dos Homens".
Trata-se de um livro com aparência de ficção científica, no qual o autor fala-nos de profundas verdades relativas à vida humana e ao Universo. A linguagem metafórica e enigmática, porém, exige do leitor uma disposição de espírito para se aproximar pouco a pouco de seus significados, às vezes fazendo-o andar em círculos, mas sempre correspondendo de forma adequada à compreensão da pessoa que o lê naquele momento.
Vem de seus capítulos o termo "Tesskuano". Designa, na estória, uma espécie de telescópio através do qual Belzebu, que veio de uma parte longínqua do Universo, de seu local de residência, em Marte, observa tudo o que se passa no planeta Terra onde se dá a estranha forma de existência dos homens.
O símbolo, que remete muito além do sentido literal de observação exterior, sugere-nos também uma nova disposição mental de abertura e de auto-observação, um estado de atenção para as coisas que se passam fora e dentro de nós, um desejo intenso de conhecer e de aprender a conhecer, que é o início de qualquer transformação.
Por isso sua escolha como título do blog, como homenagem e fonte de inspiração.

O livro:
G.I.Gurdjieff, "Relatos de Belzebu a Seu Neto", Horus Editora, São Paulo, 2003

Para saber mais:
www.ogrupo.org.br