quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Produção de "Relatos de Belzebu a Seu Neto"








Paul Beekman Taylor escreveu um artigo* relatando suas pesquisas sobre a trajetória do monumental livro de Gurdjieff "Do Todo e Todas as Coisas", que chamou de "A Produção de Do Todo e Todas as Coisas: 1924 a 1950". Vemos que a trajetória da produção e divulgação do livro é quase tão instigante quanto seu próprio conteúdo, pois ele começou na forma de ditados esparsos, em 1924, em Nova York, feitos em russo a Lili Chaverdian, e só foi concluído quando Gurdjieff autorizou sua publicação, em 1949, para a primeira edição de 1950 - em inglês, a qual, aliás, serve de base para a nossa versão em português (via francês) e outras.


No mesmo artigo, Beekman relata que uma nova publicação ocorreu em 1992, em Toronto e em Moscou, sob justificativa de que a publicação anterior, de 1950, não corresponderia ao texto russo original escrito por Gurdjieff, mas consistiria numa tradução imperfeita. Isto é compreensível, levando-se em consideração a enorme diferença entre as duas línguas e a exígua quantidade de bons tradutores de russo, ainda hoje, no Ocidente. No entanto, através de evidências históricas e acesso a alguns originais, Beekman conclui que aquela tese não se justifica, por pelo menos dois motivos: 1º) Depois do primeiro texto completo em russo, já transposto para o inglês e editado por Orage, Gurdjieff teria introduzido muitas alterações no próprio texto em inglês, que assim tornou-se distante daquele primeiro; e 2º) O próprio Gurdjieff saberia inglês muito bem a ponto de saber que a versão da qual estava autorizando a publicação, em 1949, era, senão exatamente o que ele pretendia - pois reconhecia publicamente as limitações da língua inglesa, como de qualquer outra, para expressar suas ideias - pelo menos o melhor a que se havia podido chegar, depois de inúmeras versões, traduções, acréscimos e mudanças no texto, feitas, inclusive, com base nos resultados da leitura pública do livro a grupos de adultos e crianças, nas décadas de 30 e 40. Além disso, quando a primeira versão em inglês (talvez ainda não exatamente a que foi publicada em 1950) ficou pronta, Gurdjieff autorizou sua tradução em várias línguas, inclusive o russo. Ou seja, existe uma versão em russo que derivou da inglesa, como teria existido primitivamente uma versão inglesa que se originou do russo. Eis o resumo que Beekman faz desse percurso:

"1. Um texto em russo ditado e escrito em 1925 é a base.
2. Esse texto foi, em seguida, traduzido para o inglês em várias formas e editado, na primavera de 1925, por Orage e outros.
3. Revisões em russo foram feitas por Gurdjieff no decorrer de 1926.
4. Na segunda metade de 1927 e meados de 1928, um novo texto em inglês foi composto e editado.
5. Esse texto, modificado em 1929 em Nova York e na França, foi dado a Knopf e impresso em cópias mimeografadas, no outono de 1931.
6. Com alterações introduzidas ao longo dos anos, desde 1931, “Do Todo e Todas as Coisas” foi publicado em 1950 por Harcourt Brace em Nova York, e em Londres por Routledge & Kegan Paul."*


Por tudo isso, diz ele, torna-se quase impossível restabelecer, hoje em dia, a via que tomaram certas traduções, que muitas vezes partiram do russo e depois voltaram ao russo - sem contar o armênio que havia no texto original, que foi de imediato transposto para o russo. É muito interessante notar esse caráter de universalismo do livro "Relatos de Belzebu a Seu Neto", primeiro livro da série "Do Todo e Todas as Coisas", que assim incorporou em seu texto, altamente enigmático para não iniciados, muitas e muitas línguas, além da inevitável contribuição de muitas e muitas mãos que operaram em transposições, versões, edições, etc. - mãos essas que parece nunca terem sobrepujado o trabalho realizado por Orage para a existência do livro em escala mundial.


(*) Para ler o artigo completo em inglês, veja em http://www.gurdjieffclub.com/

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Aproximando-se do Eu real







Do ponto de vista do nosso eu mundano, o Eu real só pode ser descrito por meio daquilo que ele não é, por adjetivos que na nossa língua vêm precedidos de I, IN ou IM de negação:

INALCANÇÁVEL – ele não pode ser alcançado
IMPONDERÁVEL – não pode ser avaliado
INTANGÍVEL – não se pode tocar
INCALCULÁVEL – não se pode calcular
INEFÁVEL – não se pode exprimir
INAPREENSÍVEL – não se pode prender
INDEFINÍVEL – não se define
INVISÍVEL – não se vê
INCOMENSURÁVEL – não se pode medir
INCONCEBÍVEL – não se pode conceber
INDIZÍVEL – não se pode dizer
INCOMPREENSÍVEL – não se pode compreender
INCOGNOSCÍVEL – não se pode conhecer
INVARIÁVEL – não tem variações
INTRADUZÍVEL – não se pode traduzir em palavras
INFORMATADO / INFORMATÁVEL – não tem forma e não aceita forma


INDIVISÍVEL – não se divide
ILIMITADO – não tem limite
IMATERIAL – não tem corpo, mas habita o corpo
INTERIOR – não está fora do ser
INTEIRO – não lhe falta nenhuma parte
ÍNTEGRO – não foge de si mesmo
INFINITO – não tem fim
IMPERECÍVEL – nunca perece
IMANENTE – não se distingue do ser
INSEPARÁVEL – não se separa do ser
IMORTAL – nunca morre
INEGÁVEL – não se pode negar
INIGUALÁVEL – não se pode reproduzir
INCOMPARÁVEL – não se pode comparar
INDELÉVEL – não se dissipa
INDENE – não sofre dano ou prejuízo
IMPÁVIDO – não tem medo
IMPOLUTO – não é poluído
INCORRUPTÍVEL – não se corrompe
INALIENÁVEL – não se pode transferir
IMACULADO – não tem mácula
IMPERDÍVEL – não se pode perder
INTRÉPIDO – não tem hesitação ou temor
IMPERATIVO – não é governado, mas governa
INSOFISMÁVEL – não pode ser enganado
INCAPAZ DE MENTIR – não pode mentir, quem mente é o eu
IMPECÁVEL – não tem falha
IMUTÁVEL – nada o faz balançar
IMPESSOAL – não é da personalidade
INOCENTE – não tem culpa
INATO – não surge depois do nascimento; o eu sim.
INTRÍNSECO – não se desliga do ser
INVIOLÁVEL – não pode ser violado
IMPENETRÁVEL – não pode ser penetrado
INDESTRUTÍVEL – não pode ser destruído
INSUBSTITUÍVEL – não pode ser substituído
INCANSÁVEL – nunca se cansa
INQUEBRANTÁVEL – nunca desanima
INFALÍVEL – nunca falha
Etc... etc...

E é bom a gente se deter nesses não-conceitos e refletir sobre eles, porque assim, no escuro da negação do que o Eu real de fato é, a Mente se torna momentaneamente humilde, incapaz de se fixar em um único conceito ou resposta; então ela faz aquilo que a torna realmente grande: ela busca interiormente. Ela precisa ficar quieta e vazia, e sondar o âmago que contém todas as respostas. Então alguma coisa realmente positiva, mas para a qual certamente não existem palavras, pode se insinuar.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

ALGUNS MOMENTOS COM O SR. GURDJIEFF - VIDEO



















Este vídeo foi feito durante viagens que o Sr. Gurdjieff fez pela França em 1949, com discípulos da época. É um presente da tecnologia podermos vê-lo hoje em filme. Desfrutem.


http://www.gurdjieffclub.ru/fileadmin/flash/FlowPlayerDark.swf?allowfullscreen=TRUE&config={}

OBS.: Se não conseguir abrir o video, veja no site: www.gurdjieffclub.com