quinta-feira, 15 de março de 2012

A Divina Mãe, por Râmakrishna



A mãe do Universo e suas exibições / Criação do Mundo / A Divina Mãe e a Alma Liberta

Em certo momento é feita uma pergunta a Râmakrishna(*):

- Servi-vos dizer-nos uma vez mais, Reverendo Senhor, em que diferentes modos, Kâli, a Mãe do Universo, se faz manifesta neste mundo de suas exibições?

Sri Râmakrishna sorriu:

- Oh! A Mãe se recreia no mundo, Seu instrumento, sob vários aspectos e nomes. Ora é o Deus Incondicionado, Absoluto, sem forma (Mahâ-Kâli); ora o Permanente, como distinto de Suas obras (Nitya-Kâli). Sob outro aspecto, ela é a Deidade dos Ghâts ardentes ou crematórios, a tétrica Deidade que preside a morte; ora se apresenta ante nós disposta a abençoar e preservar Seus filhos; sob outro aspecto, Ela aparece agradável aos olhos de Seus devotos como a Mãe de cor azul-escura, Consorte do Deus da Eternidade e do Infinito.

Mahâ-Kâli e Nitya-Kâli são descritas assim nos sagrados livros dos Tantras: ‘Quando nada havia – nem sol, nem lua, nem planetas, senão tão só a Profunda Obscuridade, só existia minha Divina Mãe, Sem-forma, a Eterna Consorte do Infinito’. Como Mãe de cor azul-escura, Ela é terna e amorosa. Ela é doadora de todas as bênçãos e faz a seus filhos intrépidos. (...)

Agora contemplai Seu sistema de criação. No fim de um ciclo, depois da destruição do mundo, minha Mãe, como boa Matrona que é, põe juntas as sementes da criação. As donas de casa têm uma caçarola (...). Nela guardam a ‘espuma do mar’ no estado sólido, pequenos recipientes que contêm sementes de pepinos, abóbora etc. Tiram-nas dali quando necessitam. De maneira muito parecida, minha Mãe guarda as sementes da criação depois da destruição do mundo no fim de um ciclo.

Minha Mãe, a Energia Divina Primitiva está dentro e fora deste mundo fenomenal. Havendo dado conhecimento ao mundo, Ela vive nele. Nos Vedas achamos o exemplo da aranha e sua teia. Ela é a aranha e o mundo é a teia que teceu. A aranha produz a teia fenomenal de si mesma e logo vive nela. Minha Mãe é ambas as coisas: o Continente e o Conteúdo.

O Bhagavân cantou com Sua voz divina:

- Ó Mãe! Tu estás fazendo voar o papagaio de papel (do ser humano) na praça deste mundo.
Ele voa no vento da esperança, sujeito ao fio de Mâyâ.
Costelas, nervos e ossos constituem sua forma.
De tuas próprias qualidades, Tu fizeste o papagaio, para ostentar a Tua arte.
Torceste o fio com Mânjâ (pasta de erva pulverizada) do mundano e este foi se adelgaçando.
Entre centos de mil papagaios, só a um ou a dois cortaste o fio e são livres; e então, risonha, Tu aplaudes.
Prasâd disse: ‘Liberto assim o papagaio, voará com ventos benignos e cairá além do oceano deste mundo’.

Sri Râmakrishna continuou:

Minha Divina Mãe se recreia. O mundo é, em verdade, Seu desporto. Ela faz o que quer e é ditosa. É Sua alegria dar liberdade a um entre cem mil de Seus filhos.

Um brâmane pergunta:

- Senhor, Ela pode, se o deseja, fazer livre todo o mundo. Por que então nos ligou, de pés e mãos, com as cadeias do mundo?

Sri Râmakrishna:

- Bem, eu suponho que é Sua vontade. Sua vontade é recrear-se com todas essas coisas. No jogo das escondidas, qualquer que toca a Grande-dama fica fora. Já não corre mais. Se todos os jogadores tocam ao mesmo tempo a Grande-dama, como pode haver jogo?

(...)

(*) Extraído de “O Evangelho de Râmakrishna”, por Swâmi Abhedânanda, Ed. Pensamento, páginas 86 a 88.

quinta-feira, 1 de março de 2012

As Árvores







As árvores estão silenciosas, solenes
Mas não são melancólicas
Elas sabem que quando o sol nascer
As folhas vão explodir
Em brilho, cor, movimento, som.

Elas são modestas
Por isso não têm nenhuma ansiedade.
Não esperam ocultamente
Como eu, tirar algum proveito
De algum brilho que ocorreu.
Sabem que a Beleza é provisória
Pertence aos olhos de quem vê
O resto é o sol batendo na criação.

Elas não são cansadas de ontem
Como eu, que a cada manhã aprendo
Com a lição silenciosa das árvores.
Guardam a forma serena
De quem à raiz entregou toda fadiga
E apenas esperam em verde profundo
Em força plena,
Em calma e exercício de Ser,
Apenas o sol nascer.






Marcia K.