sexta-feira, 28 de março de 2025

CÓDIGO-FONTE - uma autobiografia de sucesso

A epopeia do menino rebelde e inquieto que não sossega enquanto não fizer algo grande é o que prende o leitor e confere sentido à narrativa. Todo o mundo deseja alguma coisa e se esforça, dentro do possível, para se aproximar dessa conquista. Mas quando lemos a história de alguém como Bill Gates, que utilizou quase cem por cento de seus recursos - pessoais,  mentais, sociais, familiares - para apostar em algo em que ninguém tinha pensado antes, queremos saber como ele fez isso.


(Imagem gerada por IA)


BILL GATES: CÓDIGO-FONTE COMO TUDO COMEÇOU 

(Resenha)


                                    Quando fiz uma viagem recente, busquei um livro para levar que interessasse tanto a mim quanto ao meu marido que sempre trabalhou na área de informática. O livro autobiográfico de Bill Gates "Código-Fonte - Como Tudo Começou", lançado pela Cia. das Letras, foi o escolhido: o relato de uma trajetória de sucesso e não de qualquer pessoa,  mas de um cara que está presente todos os dias em nosso computador. 

        E não me enganei. Nós dois devoramos o livro. A ele, que começou a trabalhar nessa área quando tudo ainda engatinhava, e a programação das máquinas exigia esforços e renúncias consideráveis, agradou saber como tudo havia começado; quem inventou e quando foram comercializadas as primeiras máquinas até os microcomputadores pessoais; quem criou e adaptou as primeiras linguagens de computador para rodar naquelas máquinas inicialmente "burras" que tinham sido lançadas com muita ousadia, mas ninguém de fato sabia usar. Um dos protagonistas desses avanços foi justamente o garoto precoce Bill Gates, com seu caráter hiperativo, os estímulos e obstáculos que teve, o seu trabalho incansável. O Bill Gates que, ficamos sabendo no livro, tem exatamente a nossa idade.

    Mas o livro é muito mais do que um guia para aficionados de computador. Cada parágrafo de "Código-Fonte" nos envolve em uma narrativa dinâmica, informal mas precisa, que mescla fatos objetivos com pequenas crises da adolescência e o mundo estudantil e dos negócios, dando a impressão de que estamos assistindo a um filme e torcendo pelo protagonista. Por que o livro é tão bem escrito? O autor não é ingrato. No final, em "Agradecimentos", ele dá amplos méritos a todas as dezenas de pessoas que o ajudaram a transformar sua história em livro. E para conseguir esse resultado, muitos aspectos tiveram de ser contemplados.

    É assombroso notar que até para escrevermos nossa própria história seja necessário bastante pesquisa. Nossa memória é muito mais falha do que pensamos. Retemos, no máximo, impressões esparsas do que vivemos, o que torna esse conjunto insuficiente e não confiável para dar qualquer sentido a um livro de memórias. Por isso Bill Gates se vale da memória de outros,  obtida em conversas com muita gente que conheceu e com quem partilhou experiências,  desde amigos do ensino fundamental até os sócios que fundaram com ele a empresa Microsoft, além de consultas a arquivos das escolas que frequentou, da Faculdade de Harvard, de clubes, bibliotecas e outras instituições. Foi um trabalho de mais de uma década para obter fatos, nomes, datas e números, a fim de torná-lo um verdadeiro ensaio sobre a história da computação. 

    Mas o livro não se resume a uma história da informática. A epopeia do menino rebelde e inquieto que não sossega enquanto não fizer algo muito grande é o que prende o leitor e confere sentido à narrativa. Todo o mundo deseja alguma coisa  e se esforça, dentro do possível, para se aproximar dessa conquista. Mas quando lemos a história de alguém como Bill Gates, que utilizou quase cem por cento de seus recursos - pessoais,  mentais, sociais, familiares - para apostar na sua ambição, queremos saber como ele fez isso.

    Certa vez um mestre afirmou que três fatores são necessários para se obter êxito em qualquer coisa que se faça: o primeiro é talento, habilidade, técnica; o segundo é trabalho duro; e o terceiro é sorte. Bill tinha talento de sobra para a matemática. Tinha um modo de pensar que podia assimilar rapidamente a informação e conectá-la a outras. Possuía um grande poder de concentração, desde que o assunto o interessasse. E havia treinado sua mente na matemática para um pensar estratégico, isto é, voltado para as formas de atingir o objetivo. Sua habilidade mental estava aliada uma sociabilidade, em parte natural e em parte cutucada por sua mãe,  que não o deixava se isolar em seus brinquedos mentais e o empurrava para interações com outras pessoas. Esse ponto é muito importante, porque os infinitos nerds fechados em seus espaços dificilmente se tornariam um dos homens mais ricos do mundo. 

    Agora o segundo fator: esforço. Nosso Bill, desde menino, não se deixava abater pelos "nãos" que a vida lhe opunha, tal como opõe aos que lutam pelo que querem. Tinha persistência,  teimosia. Trabalhava mais do que os outros. Sacrificava tempo de descanso, de lazer, de vida pessoal em prol do trabalho com que tinha encasquetado e se comprometido, fosse um simples trabalho escolar, uma excursão pelas montanhas ou fazer a sua empresa dar certo.

    Terceiro fator: sorte. Ah, essa ele tinha mesmo de sobra! O livro deixa claro seu reconhecimento e gratidão pelo ambiente protegido e estimulante no qual foi criado pelos pais e a avó, que davam amplos exemplos pessoais para que os filhos tivessem senso de responsabilidade social, empenho e organização. Quem não desejaria ter um berço assim? Não podemos deixar de pensar no fato de Bill Gates ter nascido nos Estados Unidos, na década de 50, e não na América Latina. Alguma dúvida quanto à diferença que faria, se fosse no Brasil? O nosso sistema educacional, por exemplo, não se compara ao americano. Sobeja na narrativa de Gates episódios escolares em que recebeu compreensão, apoio, oportunidades e estímulos de mestres e diretores para perseguir seus ideais sem prejudicar os estudos. Isso significa sorte, oportunidade. É o fator de suporte e de encorajamento que pode levar os alunos empenhados às suas melhores realizações. 

    Um resumo que não tira a vontade de ler o livro: como conciliar uma ambição enorme e a visão tradicional de uma sociedade cheia de regras? Como Bill Gates consegue equilibrar isso? Dá para sentir a alta voltagem desse espírito jovem determinado a aprender e a alcançar resultados, sem no entanto decepcionar o alto desempenho esperado dele pela família.  Seu desafio: dar conta de fazer exatamente o que queria, sem deixar de em tudo ser o melhor. Talvez não seja mesmo para qualquer um!
        

FIM

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sábado, 22 de março de 2025

Aéreos

Aéreos


Na verdadeira linha de montagem na qual nos movemos dia após dia - tendo que ser sempre produtivos, orientados, definidos como se fôramos um objeto etiquetado e útil -, algumas situações nos colocam frente a frente com nosso Eu completamente marginalizado. E é uma delícia!

Por exemplo, quando você está num portão de embarque no aeroporto, você não está em lugar nenhum. Não está mais na cidade ou país desde o instante em que se despediu de sua bagagem e passou pelas esteiras de sensores. Agora você está à espera. Dentro de algumas horas você estará lá,  mas agora, quase não está mais aqui. Você é um ser passageiro. Uma condição especial que será bom aproveitar, se puder. Aquele Eu viajante que exercitamos no estrangeiro já está começando a se diluir. Em breve será apenas parte de nossas recordações. Mas o Eu rotineiro ainda não assumiu seu comando feroz sobre nossos pensamentos e emoções mais familiares. Somos nós e o outro, somos várias possibilidades de nós mesmos, enriquecidos pela cultura, a língua e a história de outros, passados e futuros, onipresentes e aéreos. 

Se nesse entreato uma ideia meio doida aterrissar, deixe! Se lembranças desconexas se projetarem diante de seus olhos num mosaico abstrato como um sonho, sem comparação com nada que já tenha visto, apenas observe, não impeça o artista. Por apenas essas poucas horas vivamos a delícia de ser maiores do que o quadrado da nossa persona, nos descolar de nós mesmos. E decolar.💭